Um dia na quarta série uma professora deu um livro chamado A bolsa amarela (de Lygia Bojunga Teles) e falava sobre uma garota que tinha umas vontades que desatavam a crescer e ela sempre vivia correndo o risco dos adultos verem. E é claro que eles não iam entender.
Eu acordei com uma vontade de ser outro bicho. O homo sapiens sapiens não tá fazendo meu estilo. Muito sem graça. Muito preocupado com coisas sem sentido, muito complicado. Andei querendo ser uma borboleta daquelas bem bonitas e não me importaria de ser lagarta antes pra chegar a isso. Ou talvez um tubarão que é forte e bravo e ninguém tira farinha com ele. Ou até uma minhoca, que vive em baixo da terra, e assim ninguém poderia ver os micos que eu pago por ai. E também ninguém nunca me veria chorar.
Só sei que a vontade cresceu, então vim escrever pra ver se ela diminui num tamanho que só fique dentro de mim quietinha guardada.
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